2/19/09

BELLUM OMNIA OMNES

O homem é o animal mais egoísta e egocêntrico de toda a fauna terrestre, seu instinto de sobrevivência faz com que ele tema até mesmo o mais inofensivo inseto, pois o homem vê, o homem percebe o mundo com os olhos, os animais o sentem com o nariz e os ouvidos, mas o homem vê e a visão é a benção e a maldição do homem, a visão o aprisiona num cubículo sensorial e o homem não se expande a saída para o homem escapar daquele cubículo? Simples: associar-se a outros homens.

 

Estando agora em contato com outros homens o homem torna-se sociável e abraça aquele modo de vida e aquele modo de vida é cômodo ao homem, até ele descobrir que o outro indivíduo é tão egoísta quanto ele, e todos os outros indivíduos que estavam associados tomarem consciência e tornarem-se seletivos em suas relações sociais, dividindo-se em grupos e criando uma torre de relações onde uma esfera sobrepõe-se a outra subindo até os céus! 

 

E lá está o homem, sustentando a condição que ele próprio ajudou a criar, quanto ódio sente aquele homem, sustentando tantas esferas sobre as costas e para quê? No fundo ele continua sozinho aprisionado em seu cubículo sensorial, não mais lutando contra animais selvagens, mas contra homens "civilizados", qual a reação do homem? Bem, a reação de todos os homens, fantasiar que ele não estava errado, que ele faz algo positivo, então ele inventa um homem que está no alto da torre, ele o recompensará e o trabalho se torna "recompensador".

 

O homem agora imagina um homem bondoso no céu, mas ele não pode tocá-lo, ele quer tocá-lo, ele quer agradecer àquele homem que irá recompensá-lo afinal, ele tem que agradecer àquele homem, então ele põe um homem da esfera mais alta, que com certeza está mais perto do homem, como líder deles, e agora ele goesa porque pode ver o homem, ele pode saber o que o homem quer falar, ele pode agradecer ao homem e pedir alívio ao homem, depois de um tempo ele vê outra torre então ele imagina: deve haver homens no topo das outras torres, então eu devo gritar por ajuda também a esses homens e eles me responderão.

 

Depois de um tempo o homem abandona essa bobagem e diz: só há o homem da minha torre, os outros são animais selvagens, então ele, junto de outros homens, começam a demolir e se apropriar de outras torres, então o homem que agora somente suportava a sua torre agora suporta várias outras, então o homem se rebela e destrói a própria torre e com ela todas as outras, os homens que despencam dos outros níveis da torre começam a digladiar-se no chão, numa guerra de todos contra todos (bellum omnia omnes).

 

Essa é a verdade, a verdade essencial, essa é a verdade messiânica, essa verdade vos libertará!


 





2/12/09

A fragmentação política do mundo

O mundo vive um longo ciclo de desagregação econômica, fragmentação política, instabilidade e baixo crescimento, dominado por uma frágil hegemonia unipolar e marcado por conflitos e tensões políticas e militares regionais e concentração da riqueza mundial. Em 2020 o mundo estará dominado pela instabilidade e desagregação econômica e social e pelos conflitos e tensões sociais, com desigualdade e degradação ambiental.

A frágil hegemonia unipolar liderada pelos EUA promove uma liberalização ampla dos fluxos econômicos mundiais sem mecanismos de regulação e controle, levando a uma instabilidade no sistema financeiro internacional e ao acirramento das disputas comerciais e protecionistas entre países e blocos econômicos, gerando uma fragmentação da economia mundial. Nessas condições, desorganiza-se a própria hegemonia unipolar e se intensificam as tensões e os conflitos regionais, ao mesmo tempo em que são criadas restrições ao crescimento econômico e à influência político-diplomática dos países emergentes de grande potencialidade.

Há um fraco desempenho da economia mundial – crescimento anual em torno de 1% – e estagnação do processo de integração. Como conseqüência, ocorre um retrocesso na abertura das economias e uma desorganização do comércio entre as nações e mesmo uma desaceleração das atividades dos blocos econômicos supranacionais. Ao mesmo tempo, as inovações tecnológicas se mantêm em ritmo moderado e de forma ascendente, intensificando a concorrência e promovendo a modernização tecnológica e, portanto, aumento do desemprego estrutural, especialmente nos países industrializados.

Dentro do quadro geral de estagnação econômica global, acentuam-se as desigualdades entre as nações, penalizando mais duramente os países mais pobres e com maior dependência da economia mundial e com mais dificuldades para acompanhar a modernização, mesmo moderada, da base tecnológica. Mesmo os grandes países emergentes, entre os quais o Brasil, encontram condições muito desfavoráveis de inserção na economia internacional, tendo limitado espaços no contexto internacional.

Como conseqüência, crescem as frustrações e problemas sociais nos países periféricos, levando a uma intensificação e agravamento das tensões e conflitos regionais, inclusive com confrontos bélicos, gerando instabilidade política mundial. Especialmente nos países de grandes dimensões populacionais e base econômica, os estrangulamentos e os problemas sociais são agravados, reduzindo sua capacidade de crescimento e de influência no jogo político internacional.

Mesmo com baixo crescimento econômico, persistem as pressões antrópicas sobre os ecossistemas e o meio ambiente, com degradação ambiental de forma localizada, devido à ausência de políticas ativas e de sistema de controle, levando a uma deterioração dos recursos ambientais.

Os conflitos étnicos e nacionalistas

Combinação da crise econômica com o fim do bloco soviético e a emergência dos nacionalismos na periferia da república deflagrou várias tentativas de golpes, culminando com o golpe de agosto de l991, onde os opositores foram vencidos, destruindo o equilíbrio de poder ainda existente, dissolvendo as forças que sustentavam Gorbatchev. Nos últimos meses do ano, o império soviético fragmentou-se, acabando com a União Soviética.

O cenário pós-comunismo na Europa Oriental e na antiga União Soviética revela a crise geral dos Estados. A tumultuada transição da economia estatal e planificada para a economia de mercado provoca a desorganização das velhas estruturas produtivas, a desindustrialização e um desemprego crônico crescente. A liberação dos preços e a derrubada das barreiras comerciais protecionistas deflagram surtos inflacionários, com a conseqüente evaporação do poder de compra dos salários e a brutal desvalorização das poupanças. Nesse ambiente econômico, florescem os nacionalismos étnicos. Em toda a Europa Oriental e nos territórios que pertenceram ao império soviético crescem as reivindicações separatistas de comunidades étnicas e culturais, como a atual crise na Tchetchênia, iniciada no final de 1994 e se arrastando sem solução em 1995.

O fim da União Soviética e da Guerra Fria gerou uma Nova Ordem Mundial (Multipolarização), ou seja, uma nova organização geopolítica no globo, acabando com as bases da divisão em blocos sustentada pelo mundo bipolar. A nova Alemanha reunificada funciona como ponte entre as "duas Europa": A Comunidade Européia, hoje União Européia (UE), a oeste, e as economias em transição, a leste.

Globalização da economia: A década de 90 começa com a economia mundial em profunda recessão e com quebra da estrutura bipolar de hegemonia estratégico-militar estabelecida desde o final da Segunda Guerra Mundial. Com a dissolução da URSS e o fim do bloco socialista na década de 80, os EUA passam a ser a única grande potência militar com poder de intervenção em todo o globo. Ao mesmo tempo, perdem a hegemonia econômica que exerciam desde meados do século e vivem uma crise que precipita a recessão mundial. Isto ocorre por razões internas e externas. As externas: o crescimento relativo da economia de outros países, como o Japão, que atualmente tem uma renda per capita maior que a dos EUA; o fortalecimento da União Européia, em especial da economia alemã; e também o surgimento de novas regiões industriais com alta competitividade, como os tigres asiáticos — Coréia, Taiwan, Cingapura, Hong Kong e Tailândia.

A crise estadunidense: Os EUA, ainda se mantêm no primeiro lugar em desenvolvimento científico e inovação tecnológica, mas perdem em engenharia de produção, especialmente para os países asiáticos, que têm demonstrado mais agilidade na incorporação do progresso técnico à produção. O resultado é a queda da competitividade das indústrias americanas frente aos concorrentes internacionais, inclusive dentro de seu próprio território, e o desemprego, atualmente na ordem de 12% da população economicamente ativa. No plano externo, ao mesmo tempo em que defendem um mercado mundial sem barreiras comerciais, enfrentam competidores que praticam uma boa dose de protecionismo em suas fronteiras e onde o Estado intervém fortemente na economia, como no Japão e países da Europa. Em conseqüência, em 1983, os EUA registram pela primeira vez um déficit em sua balança comercial e balanço de pagamentos. Para compensar esse déficit é quebrada a paridade internacional entre o dólar e o ouro, até então indexadores da economia mundial. As moedas ficam flutuantes e cresce a inflação nos países desenvolvidos, retraindo-se a produção.

A reação externa norte-americana começa ainda no governo Bush, em duas linhas principais. A primeira, conduzida através do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), tem por objetivo rebaixar as barreiras aduaneiras em todos os países, inclusive nos que praticam políticas protecionistas, aumentando assim o mercado para a produção industrial americana, que ainda é a maior do mundo. No Brasil, por exemplo, o fim das restrições às importações é um reflexo dessa política. O segundo passo é o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que objetiva derrubar as barreiras alfandegárias entre México, EUA e Canadá, criando um bloco econômico para se contrapor à crescente integração européia. Internamente, o governo Bill Clinton começa a enfrentar a recessão, ampliando a intervenção do Estado na economia. Em 1993, apresenta um programa oficial de reciclagem de mão-de-obra para acelerar a incorporação do progresso técnico pela indústria e, assim, aumentar sua competitividade. Medidas protecionistas também são tomadas, com o Estado oferecendo apoio efetivo em algumas ações comerciais internacionais, como a defesa de patentes na indústria farmacêutica, e adotando sanções econômicas contra os países que se recusam a respeitá-las.

Novos blocos: O fortalecimento dos novos blocos econômicos é outra alteração da cena internacional em transição. A unificação da Europa, que ressurge como grande pólo econômico mundial, é fruto de uma política iniciada ainda nos anos 50, logo após o período de reconstrução das economias destruídas pela guerra. A Comunidade Econômica Européia, criada em 1957, tinha por objetivo aumentar a autonomia da região frente ao poderio dos EUA. Seus resultados, no entanto, extrapolam os limites estritamente econômicos e desemboca em uma política externa e de defesa comum, a constituição de uma cidadania européia e o fortalecimento do Parlamento Europeu. O Tratado de Maastricht, assinado em fevereiro de 1992 pelos doze chefes de Estado da Comunidade Européia, estabelece um cronograma para a integração regional, mecanismos para equilibrar as políticas econômicas dos diferentes países e um fundo comum para auxiliar os parceiros mais pobres da comunidade (Espanha, Portugal e Grécia) nas reformas necessárias. Também fixa uma moeda única, o ECU (Unidade Econômica Européia), prevista para entrar em circulação em janeiro de 1999.

As expectativas em torno da NAFTA e do MERCOSUL são mais restritas. A NAFTA representa maior integração das economias do México e Canadá à estadunidense, consolidando uma relação já há muito estabelecida. Os destinos do MERCOSUL são menos evidentes. Reunindo países exportadores de matérias-primas e produtos semi-elaborados, como Chile e Argentina, e o Brasil, com uma base industrial diversificada, mas em profunda crise econômica, pode se constituir como pólo dinamizado para as economias locais.

A nova inserção dos países do Leste europeu que pertenciam ao extinto bloco socialista também permanece indefinida. A perspectiva inicial de que rapidamente se transformariam em um novo e grande mercado a ser explorado pelos capitais internacionais ainda não se confirmou, especialmente pela indefinição de suas situações políticas internas. Para alguns, como a República Tcheca, Hungria e Polônia, a tendência é maior integração à União Européia. Outros, como Bulgária, Romênia e Eslováquia, embora tenham esse objetivo, estão mais distantes de sua realização. A crise política na Rússia e a guerra entre as nações que formavam a Iugoslávia não permitem prever sua posição no cenário político e econômico internacional.

A internacionalização dos fluxos de capitais e a integração das economias nacionais atingiram um patamar inédito. A nova ordem mundial não é mais estável ou segura que a ordem da Guerra Fria, essa nova globalização perversa que ganha força, ancorada pelos desfazedores de humanidades, os neoliberais, que aumentam exageradamente a produção com cada vez menos emprego. Se o espectro da catástrofe nuclear parece ter sido afastado, novos demônios tomaram-lhe o lugar. A emergência dos nacionalismos e das hostilidades étnica, o ressurgimento do racismo e da xenofobia e a multiplicação dos conflitos localizados evidenciam a componente de instabilidade introduzida pela decadência das velhas superpotências. O século vindouro não promete um mundo melhor para se viver que o século que se encerra.

As migrações internacionais: As populações do mundo sempre se deslocaram de um lugar para o outro ao longo da história da humanidade, mais recentemente com as conquistas dos europeus de diversas partes do planeta, esse movimento adquiriu dimensões intercontinentais. Hoje as principais migrações internacionais têm causas econômicas: são transferências intercontinentais de força de trabalho de um país para outro, atravessando fronteiras política e desrespeitando leis locais.

A origem do movimento migratório é um país incapaz economicamente para absorver a força de trabalho. O destino do movimento migratório corresponde a uma economia que apresenta dinamismo e demanda de força de trabalho. Os países que oferecem essas condições hoje é, o centro do sistema capitalista; EUA, Japão, Alemanha e demais países da Europa Ocidental.

Os países capitalistas desenvolvidos têm atraído forte imigração das áreas subdesenvolvidas, mais recentemente, dos países que adotavam o modelo soviético de socialismo. Os migrantes de ex-colônias e de outras áreas do Terceiro Mundo têm fornecido mão-de-obra que passou a concorrer com trabalhadores locais.

Diante da recente recessão, esses trabalhadores sentem seus empregos ameaçados, abraçando movimentos nacionalistas fundamentados no sentimento de ódio ao estrangeiro (xenofobia). Multiplicando-se as ações violentas de grupos extremistas, a exemplo dos neonazistas skinheads na Alemanha.

Nas últimas décadas, a Europa Ocidental deixou de ser uma região de emigração, passando a receber cerca de 10 milhões de europeus orientais entre 1950 e 1990. Além disso, aos fluxos imigratórios provenientes das ex-colônias juntaram-se aos exilados políticos, somando mais de 5 milhões de pessoas.

Nos Estados Unidos, que sempre foi um país receptor de emigrantes, tem-se desenvolvido também uma crescente xenofobia. Desde de 1986 vigora uma rígida legislação restritiva a imigração, buscando conter, especialmente, o crescente fluxo de latino-americanos. Por exemplo, a população mexicana registrada oficialmente no país é de cerca de 12 milhões, porém, de 1986 a 1990, mais de 5 milhões de imigrantes mexicanos ilegais foram barrados pela polícia de fronteira dos Estados Unidos. Existem ainda outros grandes grupos latinos, com 1,5 milhão de cubanos na Flórida, e 1 milhão de porto-riquenhos em Nova Iorque.

Além da profunda aversão aos latino-americanos, tem crescido nos EUA o preconceito racial contra os negros. A discriminação e a segregação acobertam a crescente desigualdade social entre o grupo branco, anglo-saxão, protestante e todo os grupo sociais. Hoje cada três negros estadunidense habitante das cidades um vive na miséria, enquanto entre os brancos a taxa é de um para cada sete. Nos últimos anos as desigualdades têm aumentado bem como as manifestações violentas dos diversos grupos étnicos, como ocorreu em Los Angeles, em maio de 1992, demonstrando preconceito racial e social.

Os rendimentos da população mais rica o mundo que era 30 vezes maior que a população mais pobre em 1960, passou agora a mais de 60 vezes. Dentro desse processo de concentração, verificou-se que de 1975 a 1985 os países subdesenvolvidos remeteram cerca de 250 bilhões de dólares de divisas para os países do centro do capitalismo e, segundo o Relatório sobre o desenvolvimento Humano — 1992, publicado pela ONU, a transferências de recursos da periferia capitalista do Sul pobre para o centro capitalista do Norte rico, tem continuado até hoje na ordem de 21 bilhões de dólares ao ano em média.

A mesma lógica que define as relações do capitalismo em escala mundial determina também as desigualdades sociais para a maioria da população e a concentração de riquezas para uma elite privilegiada nas áreas periféricas do sistema. Segundo o relatório da ONU de 1992, no Brasil, por exemplo, os 20% mais ricos da população têm rendimento 26 vezes superior ao dos 20% mais pobre do país. Em alguns países, como a Nigéria, a extensão da miséria é tão grande que em sua capital, Lagos, a favela quase engoliu a cidade.

Nos últimos 30 anos a qualidade de vida dos países subdesenvolvidos vem diminuindo aos extremos:
• cerca de 1 bilhão de seres humanos vivem em miséria absoluta:

• mais de 1 bilhão passa fome; 1,75 bilhão não têm água potável;

• 1,5 bilhão não têm assistência médica básica;

• quase 1 bilhão é ainda analfabeto.

Estima-se que ao redor do mundo pelo menos 6 milhões de pessoas abandonam seus países de origem, a maioria constituída de refugiados econômicos, políticos e religiosos. Especialistas prevêem que esse número tende a aumentar, motivando muitos países a criarem legislações restritivas, como "muros" que os defenda dos imigrantes. Numa alusão as invasões bárbaras que derrubaram o antigo Império Romano, sendo assim, tornou-se comum chamar esses migrantes de "novos bárbaros".

Xenofobia, a vingança eterna: É preciso esclarecer que o ranço separatista tem sua herança no colonialismo, é bom esclarecer que o caldeirão cultural dos Bálcãs é fruto histórico de várias incursões estrangeiras, forjado e construído dentro de uma trilogia; o europeu (civilização mais avançada), dinheiro (economia monetarista) e deus (catequese e sujeição), essa trilogia foi também disseminada em todas as áreas coloniais do planeta.

A discussão contemporânea sobre separatismo desperta, no mínimo, dois tipos de expectativas aparentemente opostas. Para os que o reivindicam ele simboliza, em geral, a libertação política de uma ordem constitucional pretensamente veladora de certas tradições culturais (como o que acontece no Reino Unido com o Irã, e na Espanha com ETA.), tidas historicamente como as mais verdadeiras. Para aqueles que o repelem, o separatismo aparece como a manifestação de uma transgressão política inaceitável à ordem do Estado-nação. Por trás das divergências modernistas entre separatistas e unionistas existe, porém, um ponto em comum a ser assinalado, a saber: a onipotência vaidosa dos grupos sociais que reivindicam a representação legítima de certos interesses considerados como verdadeiramente nacionais - independentemente do sentido que o termo Nação adquire para tradicionalistas e modernistas. Nesta busca de legitimidades políticas, a maioria de indivíduos excluídos é freqüentemente manipulada por ambições suspeitas que (exemplo na ex-Iugoslávia e na Rússia.), de acordo com as conveniências do momento, aparecem como bandeiras tanto da esquerda, IRA e ETA, como da direita, Canadá e Sérvia. Lucram com essas manobras apenas as corporações burocráticas, as oligarquias conservadoras e as classes privilegiadas. Por isso mesmo, as paixões que dominam o debate público sobre o tema separatismo deveriam ser obrigatoriamente temperadas por um certo realismo político capaz de enxergar o perigo totalitário da fetichização do sujeito desejaste, que se desenha nos vazios produzidos pelas fragmentações dos planos constitucionais. Pois a alienação do sujeito tem como contrapartida a tirania do objeto, o qual tende a aparecer, perigosamente, como mestre dos mestres na construção das significações imaginárias.

Também a descolonização forçada e a formação de Estados orientados pelos europeus, geraram conflitos e áreas de desestabilidade, pois as fronteiras eram artificiais, fixadas pelos europeus, e não conseguiu criar, gerar um sentimento de unidade nacional entre os vários grupos étnicos, que sempre tinham vivido separados e independentes antes na colonização. Esses conflitos geralmente são solucionados por intervenções da ONU ou das grandes potências, gerando um clima de debilidade entre as "novas" nações.

Nacionalismo racial: As frustrações com relação ao poder por parte dos grupos orientados para a hegemonia política são, portanto, dispostos a constituir-se em grupos socialmente dominantes, conduziram freqüentemente a formulações de doutrinas em que a teoria racial (o cimento que une) acompanha os objetivos políticos.

O nacionalismo racial surgiu dessas necessidades, isto é, dar uma resposta às frustrações com relação ao poder, tendo como objetivo comum; conseguir fundamentalmente, o "poder nacional" para o grupo político e depois obter a expansão internacional do país, mediante a justificativa de um "destino nacional" cuja realidade vai mais além das suas próprias fronteiras iniciais, como exemplo os sérvios na Iugoslávia.

Fica evidente que o nacionalismo racial serve de pretexto para avalizar políticos expansionistas no poder. Sabe-se de táticas antropológicas históricas étnicas ou de filosofia histórica, onde nomes ilustres de um país ou de uma nação são usados como exemplos que demonstrem excelência racial, e sobreponha um outro povo. Nesse sentido os ingredientes para a mobilização nacional são os conceitos de "pátria" e de "nação”, eles são mobilizados num sentido emocional e místico.

Geralmente os povos possuem um tipo de exaltação étnica ou nacional, e aqueles que se orientaram no sentido da expansão imperialista fizeram-no sempre recorrendo ao emprego de conceitos glorificadores capazes de integrarem os entusiasmos políticos dos seus povos numa idéia comum. O racismo é, uma expressão política do nacionalismo.

Independentes das conjunturas históricas em que se exprime o racismo, o conceito de raça é o núcleo aglutinador de atitudes nacionalistas. A idéia é forjar uma consciência popular das possibilidades criadoras de uma nação a partir da confiança dos seus súditos nas virtudes e qualidades inatos da raça a que pertencem. Esta consciência é proporcionada, geralmente, sob a forma de uma mística nacional, capaz de sobrepor-se a toda a consciência de classe.

Concluindo, sempre por trás duma concepção racista abriga-se sempre uma filosofia aristocrática e elitista do poder. Segundo essa ótica o nacionalismo racial costuma interpretar os dados antropológicos segundo os seus fins e pode modificar a interpretação cada vez que se alterem as circunstâncias políticas. Exemplificando, nos primeiros momentos do imperialismo alemão, ser teutão era ser ariano de cabeça alongada e de cabelo loiro, logo depois, descobriram que nem todos alemães eram loiros, o conceito alargou-se à idéia de “alma” ou “espírito” alemão, e então o culto do “alemão” tornou-se uma adaptação menos científica e mais culturalista. No 3º Reich, a manipulação do nacionalismo racial fez-se dentro do sistema de conveniências políticas.

Nacionalismo racial com limpeza étnica: Na antiga Iugoslávia a guerra começou com a intervenção na Eslovênia em 27 de junho de 1991, por parte do exército federal, com o pretexto de preservar a unidade do país. O exército popular iugoslavo era comandado na sua maioria (60%) por oficiais sérvios, pouco a pouco se transformou em um exército sérvio, cujo objetivo era reunir todos os sérvios, e criar a grande Sérvia. Na Iugoslávia de Tito, conviviam vários grupos étnicos, tais como; croatas, sérvios, eslovenos, muçulmanos, macedônios, albaneses, magiares, montenegrinos, roms (ciganos), búlgaros, romenos, turcos, eslovacos, e outras minorias.

Portanto, a guerra logo ganhou um caráter interétnico, com muita agitação, e, em seguida, a revolta armada. A questão básica esta localizada nos "enclaves”. Massacres de civis se sucederam, sem que a comunidade internacional fosse capaz de transformar em ações seu compromisso de defender a Bósnia da guerra de agressão patrocinada pelo governo de Belgrado. Com o apoio do poderoso Exército iugoslavo, as milícias sérvias já conquistaram todo o território que almejavam na Bósnia (cerca de 70% do país, de maioria muçulmana) e mantêm sua capital, Sarajevo, sob impiedoso bombardeio. Consumado o triunfo sérvio, os croatas, antes aliados do governo de Sarajevo, trataram de abocanhar também a sua fatia. A soberania Bósnia ficou reduzida à capital e alguns enclaves protegidos pelos capacetes-azuis das Nações Unidas.

Transmitido pela televisão, o calvário da população civil colocou os governos ocidentais na obrigação de "fazer alguma coisa" em favor da Bósnia. Na prática, os ensaios de interferência externa atrapalharam mais do que ajudaram. O presidente americano Bill Clinton iniciou seu mandato disposto a jogar duro para deter a agressão e, em abril, chegou a ameaçar os sérvios com o bombardeio aéreo. Foi um fiasco. Sem o aval dos aliados europeus, Clinton teve de voltar atrás, num recuo que só serviu para encorajar os sérvios a prosseguir a guerra de conquista. No final do ano, a única chance de deter a carnificina era a proposta de paz elaborada pelos mediadores da ONU, lorde Owen e Thorvald Stoltenberg. O plano, já aceito por sérvios e croatas, oficializa o desmembramento da Bósnia em três mini estados, formados com base em critérios étnicos, e oferece aos muçulmanos 30% do território do país - bem mais do que os 10% sob controle do governo de Sarajevo. Mesmo assim, o presidente bósnio Alija Izetbegovic recusou o acordo, sob o argumento de que significa "um prêmio ao genocídio". É verdade, mas a alternativa é ainda pior: prosseguir, até o fim e sem a menor perspectiva de vitória, uma guerra que já causou mais de 150 mil mortos e expulsou de suas casas 12 milhões de pessoas.

A tragédia nos Bálcãs é acompanhada com ansiedade e pavor pela Rússia, temerosa de que o desmanche da URSS transforme o finado império numa Iugoslávia gigante e com um arsenal atômico suficiente para incinerar várias vezes o planeta. Até agora, felizmente, as turbulências do pós-comunismo estão restritas às repúblicas periféricas, nenhuma delas equipada com mísseis nucleares - o que não atenua seu rastro de dor e de destruição. A ex-URSS é palco de mais de cinqüenta conflitos étnicos diferentes, a maior parte escaramuças isoladas, em alguns casos guerras totais, como a que opõe os cristãos armênios aos muçulmanos azeris na disputa pelo montanhoso enclave de Nagorno-Karabakh. A região, habitada majoritariamente por armênios, está situada dentro do Azerbaidjão, que se recusa a devolvê-la à vizinha Armênia. Milhares de pessoas morreram quando os armênios, numa ofensiva em abril, conquistaram a faixa de território que separa sua república do enclave.

A fragmentação da URSS
Apesar das perdas humanas e materiais, a URSS sai da guerra como grande potência econômica e militar. Aumenta a centralização política, a pretexto de uma rápida recuperação econômica e do perigo de uma nova guerra, desta vez contra as potências ocidentais, tendo os Estados Unidos à frente. Stalin centraliza em 1946 as funções de secretário-geral do Partido Comunista, primeiro-ministro e ministro da Defesa. Reorganiza os organismos de repressão política e intensifica a perseguição aos opositores. A economia é restaurada através da planificação centralizada, com prioridade para a indústria pesada. Em 1950 a produção industrial e agrícola atinge os níveis anteriores à guerra. As regiões industriais no oeste do país são reconstruídas e tem início a exploração da Sibéria. Intensifica-se a mecanização agrícola e as áreas de cultivo são ampliadas. Entra em execução um plano de massificação do ensino básico e técnico e tem início o rearmamento. O V Plano Qüinqüenal, entre 1951 e 1955, é voltado para a realização de obras energéticas e de irrigação e transporte fluvial. São executados projetos de armas modernas, centradas em artefatos nucleares e foguetes, e começa a pesquisa espacial.

Cortina de ferro: Baseada em seu poderio militar, na presença de tropas soviéticas na Europa oriental e no extremo oriente e no renascimento dos partidos comunistas e socialistas em muitos países, a União Soviética passa a desenvolver uma política hegemonista para fazer frente à ascensão dos Estados Unidos no ocidente e na Ásia. Realiza a centralização política da Europa oriental por meio de tratados de paz, reparações de guerra, ocupações militares e apoio à formação de governos comunistas.

Pacto de Varsóvia: Firmado na capital polonesa, em 1955, para ajuda mútua em caso de agressões armadas aos países do bloco soviético na Europa, é o principal instrumento da hegemonia militar da União Soviética.

Iugoslávia: Realiza eleições para a Assembléia nacional e proclama uma república popular federativa em 1945, após a vitória da frente popular de libertação, dirigida pelos comunistas. O novo governo, dirigido por Josip Broz Tito, nacionaliza bancos, indústria e comércio, introduz a seguridade social e faz a reforma agrária. Mas rompe com a União Soviética em 1948, recusando-se a obedecer à centralização política sob Stalin. Em 1957 reata as relações com a União Soviética sem abandonar sua posição independente e de aproveitamento da disputa hegemônica entre os blocos soviético e norte-americano.

Tito (1892-1980) pseudônimo de Josip Broz, estadista iugoslavo. Nasce em Kumrovec, na Croácia. Filho de lavradores é obrigado a deixar a escola aos 12 anos para trabalhar no campo. Durante a 1a Guerra Mundial Tito é ferido e depois capturado pelos russos. Em 1917 é libertado pelo movimento da Revolução Russa e logo depois se alista no Exército Vermelho. Volta à Iugoslávia em 1920 e passa a atuar no Partido Comunista Nacional. Em 1928 é preso e acusado de subversão. Depois de cumprir a pena vai para Moscou, Paris e luta na guerra civil espanhola. Em 1939 volta clandestinamente à Iugoslávia e defende a neutralidade do país na 2a Guerra Mundial. Durante a invasão alemã passa a usar o cognome Tito e organiza a resistência com o Comitê Antifascista de Libertação Nacional. Em 1943 é proclamado presidente do governo provisório. Unificador das nacionalidades iugoslavas e fundador da República Popular da Iugoslávia. Apesar das rivalidades étnicas entre as nacionalidades que compõem a Iugoslávia, consegue mantê-las unificada sem grandes tensões. Sua resistência à política soviética, aliada à posterior colaboração com as potências ocidentais, lhe vale a acusação de traidor do campo socialista.

Alemanha Oriental: Em 1945 é fundado o Partido Socialista Unificado, com a fusão dos partidos Comunista e Social-Democrata da zona de ocupação soviética. O partido cria em 1948 o Conselho Geral do Povo Alemão, como reação à pressão anglo-americana para a integração da parte oeste à Europa ocidental. Berlim, cidade dividida em zonas de ocupação das potências vitoriosas na 2a Guerra, tem seu acesso por terra ao Ocidente bloqueado pelos soviéticos. Os Estados Unidos mantêm a zona sob sua ocupação com uma ponte-aérea até fevereiro de 1949. Em outubro é proclamada a República Democrática Alemã (RDA). Planos econômicos mais flexíveis e uma agressiva política comercial em direção aos países do Comecon e aos novos Estados independentes transformam a RDA no país mais desenvolvido do leste. A partir dos anos 70, amplia contatos e relações com a capitalista República Federal da Alemanha.

Construção do Muro de Berlim: Ainda dividida em zonas e cercada por território da República Democrática Alemã, a antiga capital do Reich vive nos anos seguintes ao fim do bloqueio uma competição entre os estilos de vida comunista, no leste, e capitalista, no oeste. Em 1958 Moscou sugere o fim da presença das forças de ocupação, o que é interpretado no Ocidente como manobra para incorporar a cidade à RDA. Em 13 de agosto de 1961, para interromper o fluxo de alemães orientais que buscam uma vida melhor no Ocidente, tropas da URSS e da RDA fecham 68 dos 80 pontos de passagem entre a zona soviética e o resto da cidade. Em uma noite está erguido o Muro.

Hungria: O Partido dos Pequenos Proprietários vence as eleições parlamentares de 1945. Mas em 1948, a fusão dos partidos Socialista e Comunista permite sua vitória eleitoral. O novo governo confisca os bens da Igreja e dos industriais, assim como dos comerciantes e latifundiários que apoiaram a guerra. Realiza a reforma agrária e incentiva um forte movimento cooperativista.

Levante de Budapeste: A desestalinização, em 1956, conduz a levantes populares e à derrubada do governo, em outubro. O novo governo, de tendência nacionalista, proclama a neutralidade da Hungria e sua retirada do Pacto de Varsóvia. Tropas soviéticas invadem o país em novembro e instalam o governo de Janos Kadar. Sob sua liderança, o regime inicia um lento processo de refomas que afasta a Hungria do bloco soviético.

Bulgária: Decreta o fim da monarquia por meio de um plebiscito organizado pelos comunistas em 1946. Forma-se um novo governo de maioria comunista, que logo depois se transformam numa ditadura nos moldes soviéticos, com a eliminação das demais forças políticas. Bancos, indústria e comércio são nacionalizados e é realizada a reforma agrária. É implantada uma política de industrialização rápida.

Albânia: Em 1945 é instaurado o governo da Frente Popular que comandou a resistência contra os nazistas. Os comunistas do Partido do Trabalho assumem a direção, legitimados por sua participação na guerra, e instauram uma ditadura sob a liderança de Enver Hoxha. Realizam a reforma agrária e tentam sem êxito executar um plano de industrialização. O país rompe com a União Soviética em 1961, por divergir da política de coexistência pacífica com o Ocidente lançada por Moscou, e mantém a fidelidade à imagem de Stalin. Retira-se do Pacto de Varsóvia em 1968, em protesto contra a invasão da Tchecoslováquia por tropas soviéticas.

Polônia: O Comitê de Lublin, apoiado pela URSS, proclama um governo provisório em 1945. O bloco partidário liderado pelos comunistas vence as eleições de 1947, abrindo caminho para a implantação de uma ditadura em 1948. O governo nacionaliza bancos, fábricas e grandes propriedades rurais, mas preserva a propriedade dos pequenos agricultores. Uma insurreição operária eclode em Poznan, em 1956, acelerando o processo de desestalinização. Novos movimentos de oposição ocorrem nos anos 60, resultando na insurreição operária de Gdansk em 1970.

Tchecoslováquia: O Partido Comunista vence as eleições de 1946 e forma um governo de unidade nacional. Mas surgem divergências em torno da aceitação do Plano Marshall, em 1947, e os socialistas recusam a fusão com o Partido Comunista, abrindo uma crise de governo. Em 1948 os comunistas, depois de nova vitória eleitoral, instauram uma ditadura com apoio da União Soviética.

Primavera de Praga: A desestalinização pós-1956 conduz a reformas tímidas na economia e na política, estimulando movimentos populares. Estes desembocam, em janeiro de 1968, na substituição do governo e na adoção de reformas democratizantes sob a liderança de Alexander Dubcek, que prega a criação de um “socialismo de rosto humano”. O movimento é sufocado em agosto de 1968 pela invasão das tropas soviéticas.

Romênia: A Frente Nacional Democrática, formada por comunistas, socialista e pela Frente dos Camponeses, vence as eleições de 1946. O rei abdica e é proclamada a República em 1947. Em 1948 é fundado o Partido Operário Romeno (comunista), que passa a controlar o Estado. Realiza a reforma agrária e executa um plano de industrialização. A partir de 1956, afasta-se do controle soviético. Mantém neutralidade em relação ao conflito sino-soviético, adota posições nacionalistas frente à URSS e condena a invasão da Tchecoslováquia em 1968.

BRAILLARD, Philippe. Teoria das relações internacionais. Lisboa, Portugal: Calouste
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PISIER-HOUCHNER, Elelyne. As concepções políticas do século XX: História do pensamento político. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

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MORIN, Edgar. Os problemas do fim de século. Lisboa, Portugal: Notícias, 1993.

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VIRILIO, Paul. A inércia polar. Lisboa, Portugal: Dom Quixote, 1993.

                         O genocídio de Ruanda

“Todos os grandes personagens viraram as costas para nossos massacres. Os boinas-azuis, os belgas, os diretores brancos, os presidentes negros, as pessoas humanitárias e os cinegrafistas internacionais, os bispos e os padres, e finalmente até Deus.” A constatação é de Élie Mizinge, um dos assassinos confessos hútus que participaram do massacre em Ruanda.

O depoimento deste e de outros nove hútus que pegaram em facões e porretes a fim de exterminar a etnia tútsi está no livro “Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda”, do jornalista francês Jean Hatzfeld, lançado no Brasil em 2005. O autor teve longas conversas com os entrevistados na penitenciária de Rilima, onde todos cumprem pena pelos crimes cometidos d

urante o massacre.

Sete deles eram jovens amigos de colégio, encontravam-se nos cabarés de Kibungo, região pantanosa próxima à capital Kigali e trabalhavam juntos na lavoura. Impressiona a ferocidade e a franqueza dos relatos. “Primeiro, quebrei a cabeça de uma velha mamãe com uma porretada. Mas, como ela já estava deitada no chão, meio agonizante, não senti a morte em meus braços. 

Voltei para casa de noite sem nem pensar nisso”, revela no livro um dos matadores hútus.

As atrocidades aconteceram há 12 anos -os ataques começaram nos primeiros dias de abril de 1994-, e não houve qualquer tipo de intervenção de órgãos de segurança mundial. As tropas da ONU pouco fizeram e man

tiveram postura omissa quanto à possibilidade de salvamento das vítimas.

Keir Pearson, roteirista do filme “Hotel Ruanda”, declara no material extra do DVD (disponível no Brasil a partir 20 de abril): “Quando comecei a pesquisar o assunto o que me espantou foi que a ONU sabia o que estava acontecendo, foi alertada, mas houve um esforço consciente do Ocidente em ign

orar”. No filme, uma cena simboliza bem a impotência das tropas diante da milícia extremista hútu Interahamwe, que comandou a ofensiva contra os tútsis.

Integrantes hútus, amontoados no caminhão e empunhando facões, chegam perto do hotel Mille Collines, onde o protagonista Paul Rusesabagina (Don Cheadle) abriga órfãos e tútsis ameaçados pela matança. Em frente ao portão de entrada, está o coronel Oliver (Nick Nolte) com soldados boinas-a

zuis da ONU. Os milicianos ficam cara a cara com o coronel e gritam palavras de ordem. Para intimidar, jogam fora do caminhão um capacete azul manchado de sangue com a inscrição “United Nation”. Oliver apenas acompanha de longe a arruaça promovida por eles.

Outra tentativa de voltar os olhos ao massacre ignorado à época é o filme “Shooting dogs”, do diretor escocês Michael Caton-Jones, que estreou recentemente em Londres e já tem contrato fechado com a distribuidora Imagem Filmes para ser lançado no Brasil em agosto deste ano. Assim como “Hotel Ruanda”, a ação desenrola-se em um lugar real que serviu de abrigo aos acossados tútsis: a escola secundária Ecole Technique Officielle, com sede em Kigali.

O padre católico inglês Christopher (interpretado pelo ator John Hurt) e um jovem professor tentam a qualquer custo evitar as matanças na capital Kigali e proteger mais de 2.500 tútsis e hútus moderados que são perseguidos pelas milícias extremistas. Mais uma vez, é realçado o caráter de desamparo das vítimas. Quando chegam as tropas francesas à capital, a ordem é clara: só serão resgatados os estrangeiros brancos. Nas horas seguintes à partida dos soldados, a grande maioria dos abrigados da escola é brutalmente assassinada.

“Eu decidi que, mesmo com dificuldades, nós tínhamos que rodar o filme em Ruanda e filmar na Ecole Technique Officielle. E devíamos também fazer o filme com os sobreviventes do genocídio. Eles precisam contar suas histórias”, disse o diretor Caton-Jones. A equipe viajou ao país e passou cinco meses até terminar as filmagens em Kigali. Muitos ruandeses participaram do projeto, como Maggie Kenyama que serviu como assistente de direção. Ela perdeu a irmã durante o massacre e até hoje procura pelo corpo.

“Shooting dogs” teve sua estréia mundial em Kigali. Mais de 1.500 pessoas, dentre elas alguns sobreviventes do genocídio e participantes da produção, foram ao estádio Amahoro, na capital de Ruanda, assistir à primeira exibição do filme. Apesar de gerar discórdias por reavivar memórias de um episódio ignominioso, o presidente ruandês, Paul Kagame, mostrou-se satisfeito. “Filme como este ficará como parte de nossa memória relacionada ao genocídio, e eu acho que a memória precisa ser guardada”, disse.


Em busca de respostas

A atenção voltada ao massacre de Ruanda, mesmo que tardiamente, pretende resgatar parte da história que havia sido i

gnorada e também busca questionar a motivação de uma matança sem precedentes na história mundial contemporânea. Os dois filmes em questão, “Hotel Ruanda” e “Shooting dogs”, não encerram o assunto nem estão a serviço de uma tese esclarecedora das ações. No entanto, cumprem o papel de tocar na ferida e açular reflexões.

No começo de “Hotel Ruanda”, o operador de câmera de uma emissora de televisão, Jack Daglish, interpretado por Joaquim Phoenix, puxa conversa no bar com um jornalista renomado de Kigali, interpretado por Mothusi Magano. Ele pergunta “qual a verdadeira diferença entre um hútu e um tútsi”. O jornalista responde que “segundo os colonos belgas, os tútsis são mais altos e elegantes” e, por fim, diz: “Foram os belgas que criaram essa divisão”.

Na tentativa de encontrar no passado alguma resposta que possa elucidar esse conflito entre as etnias, o jornalista francês Jean Hatzfeld, autor do livro “Uma temporada de facões”, alerta para a revolução popular de 1959 que resultou na independência do país em 1962. Foi uma revolta camponesa hútu que derrubou a aristocracia tútsi e aboliu a servidão. Os líderes dessa insurreição aproveitaram a situação para marginalizar a comunidade tútsi, formada por camponeses, funcionários e professores.

Sob o domínio dos hútus, os tútsis passaram a ser apontados como pérfidos e parasitas num país superpovoado. Em 1973, com o golpe do major Juvénal Habyarimana, a autonomia de administração hútu consolidou-se e gerou bastante desconforto à população tútsi. Ficou instituído o confisco de bens, o deslocamento da população, a fim de isolar o inimigo, além de ter sido aprovada uma lei de proibição de casamentos mistos entre as duas etnias.

O estopim que pareceu deflagrar definitivamente o conflito aconteceu em 6 de abril de 1994, quando o presidente hútu de Ruanda, Habyarimana, foi morto após a explosão do seu avião. Imediatamente a autoria do atentado recaiu sobre os tútsis. A matança iniciou-se na mesma noite na capital Kigali. O resultado seria um total de 800 mil pessoas –entre tútsis e hútus moderados– mortas em 12 semanas.

Nos depoimentos dos matadores entrevistados por Hatzfeld no livro, tende-se a pensar numa ação premeditada e anteri

or à morte do presidente. “Em 1991, nos jornais militares o tútsi era apontado como o inimigo natural do hútu que precisava ser eliminado definitivamente. Estava escrito em letras garrafais na primeira página. Com o tempo, o alvo foi sendo pouco a pouco difundido nas estações de rádio”, disse um dos hútus que participaram da matança.

Não à toa as primeiras falas do filme “Hotel Ruanda” são ameaças veiculadas numa estação de rádio. Segundo Hatzfeld, as mensagens transmitidas por rádio tiveram papel fundamental para inflamar os ânimos dos assassinos. “Nos estúdios das rádios populares, como a Rádio Ruanda ou a Rádio Mil Colinas, os tútsis são chamados de ‘baratas’. Apresentadores famosos, como Simon Bikindi e Kantano Habimana, pregam abertamente a destruição dos tútsis”, escreveu o autor.

Até o fim do massacre, por volta de 14 de maio, os hútus, acostumados ao trabalho árduo nos bananais e nos cafezais, haviam trocad

o as atividades pela rotina de matar diariamente. Como declaram no livro de Hatzfeld, era uma tarefa mais lucrativa, que trazia fartura para dentro de casa, pois não se preocupavam mais com a seca e as colheitas perdidas e acumulavam bens com as pilhagens.

Mesmo os hútus moderados, que não compartilhavam da idéia do genocídio, sofreram ameaças por não colaborarem e alguns foram mortos. Muitos desertores tinham de pagar multas em dinheiro ou eram obrigados a matar como forma de provar sua fidelidade às autoridades policiais. É o que ocorre, em certo momento do filme “Hotel Ruanda”, com o personagem Paul Rusesabagina, cuja esposa era tútsi.

Ele implora a um oficial do exército hútu para não matar sua mulher e outros vizinhos tútsis que estão jogados no chão. O militar oferece

-lhe a arma e ordena: “atire neles”. Paul diz que não sabe usar armas e promete retribuir com dinheiro, caso o oficial deixe os amigos em paz. “Quem hesitasse em matar, por causa de sentimentos de tristeza, tinha de disfarçar suas palavras a todo custo e não dizer nada sobre a razão de sua reticência, sob pena de ser acusado de cumplicidade”, disse Pio Mutungirehe em depoime

nto no livro de Hatzfeld.

Por mais que o autor e jornalista francês tenha se lançado numa obsessão a fim de compreender o genocídio em Ruanda -é seu segundo livro sobre o assunto-, as respostas parecem escorregar entre seus dedos. Um dos entrevistados, Joseph-Désiré Bitero, respondeu-lhe: “A fonte de um genocídio o senhor jamais verá, está enterrada bem fundo nos rancores, sob um acú

mulo de desentendimentos dos quais herdamos o último. Chegamos à idade adulta no pior momento da história de Ruanda, fomos educados na obediência absoluta, no ódio, fomos entupidos de fórmulas, somos uma geração sem sorte”.


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Fernando Masini
É jornalista.


Fotos; 

2/2/09

Os crentes não são pessoas muito amistosas. Qual a primeira imagem? Pessoas arrumadas de terno e roupas compridas. Mulheres que não penteiam o cabelo ou depilam suas pernas. Bíblia – e quanto maior melhor – em baixo do braço. Família junta caminhando rumo a igreja no domingo de manhã.Essa percepção infantil desaparece, à medida que passamos a conviver e nos tornamos um deles. Neste mês de dezembro, estou comemorando 10 anos de igreja. E a cada novo domingo, tenho vergonha de ser reconhecida como crente. Na verdade, é um momento de reflexão sobre o que isso significou até então e sobre o planejamento para o futuro.Não gosto da idéia de ser reconhecida como crente. Os crentes são chatos, mesquinhos, se pegam em detalhes inúteis e gastam seu tempo em conhecer ‘sabedorias’ tolas. Se preocupam com cargos, nomes e posições. Pregamos uma análise da Verdade, mas a vida do crente, pelo menos como as igrejas se estabelecem hoje, vivem algo que está longe da verdade. Uma espiritualidade vazia e sem sentido.Não consigo compreender uma assembléia onde a igreja aceita jogar no lixo R$ 200.000,000, (em um ano) e briga para retirar bolsas de estudo ou programas de assistência social. Ou uma igreja que discute perfil de pastor, exigindo que este seja íntegro, mas que permita práticas de outra ‘espiritualidade’ senão aquela que não está na Bíblia. Ou pessoas demasiadamente preocupadas com a forma, deixando de lado o amadurecimento e a cura das pessoas que estão ali.Crentes hipócritas, que não sabem o valor da palavra que carregam sob o suvaco esquerdo. Pessoas que discriminam: o diferente, o que tem problemas, o que não tem jeito e não se encaixa no padrão, os que ousam pensar um pouquinho e ver que o umbigo anda bem sujinho.Se isso tudo é ser crente, eu passo.Não quero ser isso tudo ai não.Mas é triste perceber, que, por estar no meio, o churume acaba infiltrando meu murinho, e eu repito comportamentos que não gostaria. E que já não fazia mais.



Esse texto não é meu, é de um blog a muito esquecido, não me recordo o nome, mas como esse só tinha o meu acesso e o da minha mãe. :B

2/1/09

Isso é uma espécie de página pessoal, sei lá... eu quero me dedicar mesmo com o Mãozada, mas aos navegantes que acabarem atracando nesse porto desolado em suas horas lânguidas de internauta entediado eu proponho uma viagem virtual; levarei vocês a um lugar onde religiões e etnias brigam e se digladiam a séculos...
daí você pensa: - ah, que chato! mais um falando do conflito israel-palestina.
Pois enganam-se crianças é um massacre que passa desapercebido em meio a todos:
A guerra civil sudanesa.


Manchetes pequenas mostram uma notícia de grandes proporções é uma das mais antigas guerras de etnias de todos os tempos, e eu creio que você nem saiba onde é o Sudão, pois bem vou mostrá-lo:

Bem este é o Sudão, Sudão -Leitor, Leitor - Sudão, apresentados agora é a hora de mostrar o que acontecia lá, antes um pouco da história do Sudão;

Conhecido na Antiguidade como Núbia, o Sudão é incorporado ao mundo árabe na expansão islâmica do século VII. O sul escapa ao controle muçulmano e sofre incursões de caçadores de escravos. Entre 1820 e 1822, é conquistado e unificado pelo Egito e posteriormente entra na esfera de influência do Reino Unido. Em 1881eclode uma revolta nacionalista chefiada por Muhammad Ahmed bin' Abd Allah, líder religioso conhecido como Mahdi, que expulsou os ingleses em 1885. Ele morre logo depois e os britânicos retomam o Sudão em 1898. No ano seguinte, a Nação é submetida ao domínio egípcio-britânico. Obtém autonomia limitada em1953 e independência total em 1956.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia


Viram? uma história bem antiga de um povo bem antigo, bem agora vamos ao que acontece atualmente;

O conflito de Darfur é um conflito armado em andamento na região de Darfur, no oeste do Sudão, que opõe principalmente os janjawid - milicianos recrutados entre os baggara, tribos nômades
africanas de língua árabe e religião muçulmana - e os povos não-árabes da área. O governo sudanês, embora negue publicamente que apóia os janjawid, tem fornecido armas e assistência e tem participado de ataques conjuntos com aquele grupo miliciano. O conflito teve início em fevereiro de 2003.
As mortes causadas pelo conflito são estimadas entre 50 000 (Organização Mundial da Saúde, setembro de 2004) e 450 000 (Dr. Eric Reeves, 28 de abril de 2006). A maioria das ONGs trabalha com a estimativa de 400 000 mortes. O número de pessoas obrigadas a deixar seus lares é estimado em 2 000 000. A mídia vem descrevendo o conflito como um caso de "limpeza étnica" e de "genocídio". O governo dos EUA também o considera genocídio, embora as Nações Unidas ainda não o tenham feito.Quando os combates se intensificaram em julho e agosto de 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unid
as aprovou a Resolução 1706, de 31 de agosto de 2006, que prevê o envio de uma nova força de manutenção da paz da ONU, composta de 20 000 homens, para substituir as tropas da União Africana presentes no local, que contam com 7 000 soldados. O Sudão opôs-se à Resolução e, no dia seguinte, lançou uma grande ofensiva na região.
Diferentemente da Segunda Guerra Civil Sudanesa, que opôs o norte muçulmano ao sul cristão e animista, em Darfur não se trata de um conflito entre muçulmanos e não muçulmanos pois a maioria da população é muçulmana, inclusive os janjawi
d.Darfur tem cerca de 5 a 6 milhões de habitantes, numa região com baixo nível de desenvolvimento: apenas 44,5% das crianças do sexo masculino - e um-terço do feminino - freqüentam a escola.Três tribos são predominantes na região: os fur (que emprestam o nome à região), os masalit e os zaghawa, em geral negros muçulmanos.O Sudão tem uma história de conflitos entre o sul e o norte do país, que resultaram na primeira (1955-1972) e na segunda (1983-2005) guerras civis sudanesas. A segunda confrontação causou cerca de dois milhões de mortos e mais de quatro milhões de refugiados, em ambos os casos principalmente no sul.
Em 2003, dois grupos armados da região de Darfur rebelaram-se contra o governo central sudanês, pro-árabe. O Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Liberação Sudanesa acusaram o governo de oprimir os não-árabes em favor dos árabes do país e de negligenciar a região de Darfur.Em reação, o governo lançou uma campanha de bombardeios aéreos contra localidades darfurenses em apoio a ataques por terra efetuados por uma milícia árabe, os janjawid. Estes últimos são acusados de cometer grandes vi
olações dos direitos humanos, inclusive assassinatos em massa, saques e o estupro sistemático da população não-árabe de Darfur. Os janjawid também praticam o incêndio de vilarejos inteiros, forçando os sobreviventes a fugir para campos de refugiados localizados em Darfur e no Chade; muitos dos campos darfurenses encontram-se cercados por forças janjawid. Até o verão de 2004, entre 50 000 e 80 000 pessoas haviam sido mortas e pelo menos um milhão haviam fu
gido, provocando uma grande crise humanitária na região.Em setembro de 2004, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução no. 1564, que estabeleceu uma comissão de inquérito em Darfur para avaliar o conflito. Em janeiro de 2005, a ONU divulgou um relatório afirmando que embora tenha havido assassinatos em massa e estupros, aquela organização internacional não estava em condições de classificá-los como genocídio, devido a "uma aparente falta de intenção genocida" (tradução livre do inglês).
Em maio de 2006, o Exército de Liberação Sudanesa
, principal grupo rebelde, concordou com uma proposta de acordo de paz com o governo. O acordo, preparado em Abuja, Nigéria, foi assinado com a facção do Movimento liderada por Minni Minnawi. No entanto, o acordo foi rechaçado tanto pelo Movimento Justiça e Igualdade como por uma facção rival do próprio Exército de Liberação Sudanesa, dirigida por Abdul Wahid Mohamed el Nur.Os principais pontos do acordo eram o desarmamento das milícias janjawid e a incorporação dos efetivos dos grupos rebeldes ao exército sudanês. Apesar do acordo, os combates continuaram

Fotos;